Muito Surreal

Estou deprimido, e com o ego dorido! Estou a ser a afectado, neste momento, por uma das mais terríveis e míticas leis da natureza; “quando algo corre mal, tudo corre mal”. Depois de algumas “questões” de ordem pessoal, hoje foi a gota de água! Com esta eu não contava, que mais de mal me podia acontecer??

Fui apanhado desprevenido numa das situações mais enrascadas que um gajo pode ter… (imaginem lá qual foi?) … pois, falharam (acho eu). Estava eu a prestar culto a Quisto e perdido em devaneios alucinados (talvez devido ao cheiro) quando reparei que não havia papel!! Esta é pior coisa que pode acontecer a um gajo, ficar sem papel quando cagamos. É nestas alturas que instinto de sobrevivência, a adrenalina e o engenho humano se manifesta (tal qual Macgyver).

Já ouvia a música do genérico dessa mítica série dentro de mim, e pensava furiosamente para arranjar uma solução para sair daquela enrascada (podia facilmente chamar alguém para me passar papel, mas homem que é homem, não precisa da ajuda de ninguém, ainda mais naquela posição). Nessa altura desejei estar no mato, sou um Bushman, e como tal, no mato há sempre solução: ervas (cuidado com o tojo, silvas e ortigas, picam um bocado!), pedras, paus, arrastar o cú no chão como os cães, ou até mesmo, em ultimo caso… esperar que algum animal selvagem (cão, gato, cabra, rato, etc…) passe por ali e que esteja disposto oferecer o seu pêlo ou língua para o benefício anal. Mas, eu estava em plena civilização, e sobreviver no mundo civilizado é muito mais complicado que imaginamos, por isso tinha de usar todo o meu engenho para sair de toda aquela “borradela”.

Pensei em tudo: tentar usar os boxers, o cinto, um sapato (tal como o cinto podia lava-lo, pisamos em merda de cão e não faz mal, não é?), pensei usar as meias (até agora a melhor das hipóteses), mas não gosto de andar sem meias; por isso continuei a pensar… Já ouvi falar de pessoal que usa as mãos, mas isso é um bocado nojento, até para mim!
Foi então que compreendi que não tinha uma solução agradável… estava mesmo fodido… eu sozinho na cagadeira do trabalho sem poder limpar o rabo e a única pessoa que me podia ajudar era a empregada da limpeza que tinha acabado de chegar, e andava por aquelas bandas. É boa pessoa, mas estranha… fala um brasileiro que nunca ouvi, não se compreende um cú que a tipa diz. Além disso tem o hábito de cantar na sua língua macarrónica e fazer duetos com o aspirador, que faz um barulho infernal!!!

Então engoli o orgulho e comecei a chama-la, “oh senhora, oh senhora… por favor senhora!!” (a tipa não me ouvia, tava a ensaiar alguma canção com o seu amigo aspirador) Eu com o orgulho ainda mais ferido gritei: “SOCORRO SENHORA, FODAAA-SE SOCORRO” – nesta altura ela já tinha ouvido e disse – “oi, ocê chamô, tá precisando de arguma coisa?”- eu disse – “sim, estou a precisar de papel higiénico.” - ela respondeu – “ai, ué, não tô entendendo não, tá precisado de parpé e me chamou a mim!!? Ocê tá precisando agora mesmo de parpé, não tem aí?" – eu já estava passado da marmita (e quem me conhece sabe o que isso significa), preso na cagadeira a dialogar com uma tipa que cantava com o aspirador e a fazer perguntas estúpidas!!! – eu disse – “PORRA, vá me buscar a merda do papel se faz favor, preciso do papel JÁ!" - ela respondeu – “tá bom moço, eu vou…”.

Fiquei à espera do papel uma carrada de tempo, já estava com as pernas dormentes, e a tipa nunca mais chegava! Passado um bocado ela chega e diz – “oi, moço? Ocê tá aí?” - eu fodido respondi – “PORRA, ESTOU, PARA ONDE QUERIA QUE EU FOSSE COM O CÚ CAGADO!? Abra a porta (não tranca bem. aquilo é um problema, às vezes somos apanhados de surpresa!) e atire a porcaria do rolo para aqui.” – ela respondeu – “ué, eu não vou entrá aí não, vou deixa o parpé aqui fora e ocê vem buscá ele.” – já não queira acreditar que isto estava a acontecer comigo, era demasiado surreal para estar acontecer, então disse, com muita calma – “olhe minha senhora, eu também não quero que senhora me veja aqui agarrado à sanita. Por isso, abra a porta, enfie o braço, e atire o rolo de papel para aqui, que eu apanho. Pode ser?" – então ela disse – “ ah moço, assim tá bom. Atiro o parpé e ocê apanha ele. Mas eu não entra aí não, sou casada.” – porra, isto era demais, não podia aguentar mais, e desatei às gargalhadas. A situação era tão ridícula que não podia fazer mais nada senão chorar a rir. Eu, preso na sanita, dependente de uma cantora do inferno pudica, como medo de me ver nú (que bela imagem)!

Finalmente ela abriu a porta, lançou o papel e eu fiz o que tinha fazer.

Isto é ou não, para deixar um gajo ainda mais fodido? Pensava eu que não podia acontecer mais nada, e pimba, apanho-me nesta situação embaraçosa, dependente de uma criatura louca e o seu aspirador do demónio!!

Esta aventura surreal aconteceu mesmo, é a prova que mundo anda louco!!